Monday, December 24, 2007

natal


Miguel Angelo
Natal é tempo de luz.
É bom que essa luz habite nos nossos corações, e que brilhe, irradiando, de cada um de nós para os outros.
Feliz, feliz, feliz Natal!

Sunday, December 16, 2007

o lugar




Já é noite e o frio
está em tudo que se vê
lá fora ninguém sabe
que por dentro há vazio
porque em todos há um espaço
que por medo não se vê
onde a solidão se esquece
do que o medo não previu

Já é noite e o chão
é mais terra para nascer
a água vai escorrendo
entre as mãos a percorrer
todo o espaço entre a sombra
entre o espaço que restou
para refazer a vida no que o medo não matou

mas onde tudo morre tudo pode renascer

em ti vejo o tempo que passou
vejo o sangue que correu
vejo a força que moveu
quando tudo parou em ti
a tempestade que não há em ti
arrastando para o teu lugar
e é em ti que vou ficar

já é dia e a sombra
está em tudo que se vê
lá fora ninguém sabe o que a luz pode fazer
porque a noite foi tão fria
que não soube acordar
a noite foi tão dura
e difícil de sarar

eu já descobri a casa onde posso adormecer
eu já desvendei o mundo e o tempo de perder
aqui tudo é mais forte e há mais cor no céu maior
aqui tudo é tão novo tudo pode ser meu

já é dia e a luz
tá em tudo que se vê
cá dentro não se ouve
o que lá fora faz chover
na cidade que há em ti
encontrei o meu lugar
é em ti que vou ficar.
Tiago Bettencourt

je suis un homme

Wednesday, December 12, 2007

gascontigo



Esta é uma das minhas bandeiras.
Estas são as cores quentes de afectos partilhados.

Sunday, December 9, 2007

intimidade


Felix Vallotton, " Le mensonge"


se num abraço
a tua pele
fosse minha pele...

se num beijo
a tua boca
fosse minha boca...

se num sussurro
a tua voz
fosse meu nome...

Sunday, December 2, 2007

rir

Recebi no meu correio electrónico este vídeo. Não resisto a partilhar. Porque cada vez é mais necessário encontrarmos alguma coisa que nos faça rir...

Thursday, November 29, 2007

sede


Don Rankin

podíamos roer todos os frutos
e depois deles beber, beber...
até matar todas as sedes


aromas


se o amor cheirasse
cheiraria assim...
a frésias,
em manhãs solarengas
de primavera...

Thursday, November 22, 2007

o eclipse do coronel



Eclipse total do Sol, fotografado na Turquia em 29 de Março de 2007. (Imagem do site da NASA)


Ia haver um eclipse do Sol.
Na véspera à noite, o coronel dum regimento chamou os seus sargentos e disse-lhes: “Amanhã de manhã haverá um eclipse do sol. O regimento reunir-se-á na praça de armas. Eu virei pessoalmente explicar o eclipse antes do exercício. Se o tempo não estiver favorável reunir-nos-emos no anfiteatro como é hábito”.
Imediatamente os sargentos foram redigir a sua ordem do dia: “um eclipse do sol terá lugar amanhã de manhã, por ordem do coronel. O regimento reunir-se-á na praça de armas aonde o coronel virá dirigir o eclipse em pessoa. Se o tempo não estiver favorável o eclipse terá lugar no anfiteatro”.

Rebière, Mathématiques et Mathématiciens, Paris 1925

provocações

"Deus não é malicioso, é subtil."

Albert Einstein, (1879-1955) - Prémio Nobel da Física em 1921

"Para os crentes, Deus está no princípio de todas as coisas; Para os cientistas, no final de toda a reflexão".

Max Planck, (1858-1947) - Prémio Nobel da Física em 1918

aquecimento global (4)

Monday, November 19, 2007

into my arms

A voz de Nick Cave. Um poema lindo... Para ver, ouvir e sentir...



I don't believe in an interventionist God
But I know, darling, that you do
But if I did I would kneel down and ask Him
Not to intervene when it came to you
Not to touch a hair on your head
To leave you as you are
And if He felt He had to direct you
Then direct you into my arms

Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms

And I don't believe in the existence of angels
But looking at you I wonder if that's true
But if I did I would summon them together
And ask them to watch over you
To each burn a candle for you
To make bright and clear your path
And to walk, like Christ, in grace and love
And guide you into my arms

Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms

And I believe in Love
And I know that you do too
And I believe in some kind of path
That we can walk down, me and you
So keep your candlew burning
And make her journey bright and pure
That she will keep returning
Always and evermore

Nick Cave

eus



Esses eus de que somos feitos, sobrepostos como pratos empilhados nas mãos de um empregado de mesa, têm outros vínculos, outras simpatias, pequenas constituições e direitos próprios - chamem-lhes o que quiserem (e muitas destas coisas nem sequer têm nome) - de modo que um deles só comparece se chover, outro só numa sala de cortinados verdes, outro se Mrs. Jones não estiver presente, outro ainda se se lhe prometer um copo de vinho - e assim por diante; pois cada indivíduo poderá multiplicar, a partir da sua experiência pessoal, os diversos compromissos que os seus diversos eus estabelecerem consigo - e alguns são demasiado absurdos e ridículos para figurarem numa obra impressa.


Virginia Woolf, in "Orlando"

Wednesday, November 14, 2007

o essencial

Na vida, o essencial é emitirem-se opiniões a priori a propósito de tudo. Efectivamente, bem se vê que as massas erram e os indivíduos têm sempre razão. É forçoso que a tal respeito nos abstenhamos de deduzir regras de conduta: para serem seguidas, estas não devem ter necessidade de ser formuladas. Existem apenas duas coisas: o amor, de todas as maneiras, com raparigas belas, e a música de Nova Orleães ou Duke Ellington. O resto deveria desaparecer, porque o resto é feio, e as poucas páginas de demonstração que se seguem vão buscar toda a força ao facto de a história ser inteiramente verdadeira, já que a imaginei de uma ponta à outra. A sua realização material, propriamente dita, consiste de uma forma essencial na projecção da realidade, em atmosfera rebatida e aquecida, sobre um plano de referência irregularmente ondulado e apresentando distorção. Como se vê, um processo confessável, a havê-los.

Nova Orleães, 10 de Março de 1946

Boris Vian, prólogo de " A Espuma dos Dias"

toque


estende o teu braço,
preguiça,
toca a minha pele.
devolvo-te,
num sorriso,
o prazer.
o brilho dos teus olhos
encerra
gotas de luz.

Tuesday, November 13, 2007

rosto



Paul Klee, Ancient sound

(...)

Muito cedo na minha vida foi tarde demais. Aos dezoito anos era já tarde demais. Entre os dezoito e os vinte e cinco anos o meu rosto partiu numa direcção imprevista. Aos dezoito anos envelheci. Não sei se é assim com toda a gente, nunca perguntei. Parece-me ter ouvido falar dessa aceleração do tempo que nos fere por vezes quando atravessamos as idades mais jovens, mais celebradas da vida. Este envelhecimento foi brutal. Vi-o apoderar-se dos meus traços um a um, alterar a relação que havia entre eles, tornar os olhos maiores, o olhar mais triste, a boca mais definitiva, marcar a fronte de fendas profundas. Em vez de me assustar, vi operar-se este envelhecimento do meu rosto com o interesse que teria, por exemplo, pelo desenrolar de uma leitura. Sabia também que não me enganava, que um dia ele abrandaria e retomaria o seu curso normal. As pessoas que me tinham conhecido aos dezassete anos aquando da minha viagem a França ficaram impressionadas quando me voltaram a ver, dois anos depois, aos dezanove anos. Conservei esse novo rosto. Foi o meu rosto. Envelheceu ainda, evidentemente, mas relativamente menos do que deveria. Tenho um rosto lacerado de rugas secas e profundas, a pele quebrada. Não amoleceu como certos rostos de traços finos, conservou os mesmos contornos mas a sua matéria está destruída. Tenho um rosto destruído.

(...)


Marguerite Duras, in "O amante"

Wednesday, November 7, 2007

felicidade

A felicidade é uma obra-prima: o menor erro falseia-a, a menor hesitação altera-a, a menor falta de delicadeza desfeia-a, a menor palermice embrutece-a .

Marguerite Yourcenar, in "Memórias de Adriano"

Sunday, November 4, 2007

eu sei que vou te amar

A voz de João Gilberto, o poema de Vinicius e a música de Tom Jobim. Para deliciar...

borboleta



Marisa Monte

Saturday, November 3, 2007

memórias


Gustave Klimt, Hope II

Há pequenas impressões finas como um cabelo e que, uma vez desfeitas na nossa mente, não sabemos aonde elas nos podem levar.
Hibernam, por assim dizer, nalgum circuito da memória e um dia saltam para fora, como se acabassem de ser recebidos.
Só que, por efeito desse período de gestação profunda, alimentada ao calor do sangue e das aquisições da experiência temperada de cálcio e de ferro e de nitratos, elas aparecem já no estado adulto e prontas a procriar.
Porque as memórias procriam como se fossem pessoas vivas.

Agustina Bessa-Luís, in Antes do Degelo'

Thursday, November 1, 2007

turbilhão


nem por um segundo tem descanso o coração...

Monday, October 29, 2007

manhã


Fernando Botero, Quarto de banho, 1989

Ela gostava de se arranjar com calma.
De manhã, logo depois de acordar, tomava um banho quente que a fazia sentir mais acordada.
Depois do banho ficava a ver-se ao espelho. Ficava, por muito tempo, a acariciar o rosto, a perceber cada contorno do corpo. Dava-lhe um prazer imenso acariciar a pele, passar as mãos pelo cabelo...
Perfumava-se e deliciava-a sentir como o perfume se alterava em contacto com a sua pele, como o odor se alterava com o tempo...
E, enquanto assim, embrenhada com o prazer do corpo nú, ouvia os ruídos da rua: os carros que passavam, os que paravam, as vozes de quem conversava lá fora.
E ouviu o carro que parou e o barulho da sua caixa do correio... e com mais prazer pressentiu que aquele som era o mensageiro de uma sensação ainda melhor do que o toque da sua pele...
E a sua imagem no espelho sorriu.

Tuesday, October 23, 2007

carta


Fernando Botero, Homem com cão

Parou o carro.
Já antes, por várias vezes, tinha passado na rua dela sem ter coragem de parar. E, afinal, era tão simples!
Desta vez parou.
No meio da rua, mesmo sem desligar o carro, segurou a carta e quase correu para o passeio.
Já trazia no rosto um sorriso. Com um gesto decidido colocou a carta na caixa do correio e voltou-se para regressar ao carro.
Iluminado. Um sorriso ainda mais aberto. No olhar trazia a antecipação da resposta.
E imaginava-a a abrir a caixa do correio, a olhar para o envelope sem remetente, imaginava o espanto no seu rosto, o sorriso da surpresa. E ela a abrir o envelope e a ler a carta e o rubor na face que sabia a assaltaria.
E sabia também, e agora o sorriso feliz que trazia enquanto se encaminhava de novo para o carro, já traduzia essa certeza, que ela não tardaria a responder-lhe.
E, ainda no meio da rua, sentia já o cabelo dela, as cócegas que os caracóis dela lhe iriam fazer na palma da mão. Sentia já o cheiro dela, a maciez da pele dela, o beijo dela, a voz dela, as palavras doces dela, o riso dela, o toque da mão dela…
E, com os olhos a emoldurar um sorriso satisfeito, entrou no carro e arrancou.

Monday, October 22, 2007

asas


Asas sevem para voar
para sonhar ou para planar
Visitar espreitar espiar
Mil casas do ar


As asas não se vão cortar
Asas são para combater
Num lugar infinito
para respirar o ar


As asas são
para proteger te pintar
Não te esquecer
Visitar espreitar-te
bem alto do ar


Só quando quiseres pousar
da paixão que te roer
É um amor que vês nascer
sem prazo, idade de acabar
Não há leis para te prender
aconteça o que acontecer.


GNR

Thursday, October 18, 2007

aquecimento global (3)


Berlengas, Agosto 2007


Alguns dos dias de Verão foram muito, mas mesmo muito quentes.
E quando assim é, há que encontrar soluções. As senhoras das fotografias encontraram uns bonés muito engraçados, com uma pequena ventoínha instalada na pala, o que permitia terem sempre o rosto fresquinho. Claro que, para que as ventoínhas funcionem é necessário que lhes seja fornecida energia. As pilhas são pesadas e, além disso, têm consequências muito nefastas sobre o ambiente.
Mas até para isso há solução. E esta, muito amiga do ambiente: atrevia-me a chamar-lhe "painel solar"!

fazes muito mais que o sol

Há coisas assim. Que nos fazem sorrir, cantar... Que despertam o melhor que temos dentro de nós. Que nos abrem as portas das coisas boas, que nos iluminam.
Esta música é assim. Lembra-me as gargalhadas partilhadas, olhares de cumplicidade, sorrisos, beijos, passeios de mãos dadas a fugir da chuva no verão...



Tiago Bettencourtt e Mantha, Canção simples

E o gosto da pele
e a cor dos olhos
e os pés na areia molhada
tu
e a felicidade!

Sunday, October 14, 2007

para ser grande, sê inteiro

Hoje disseram-me que morreste.
Vou recordar-te sempre pelo que, da vida, me ensinaste...



"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive"


Ricardo Reis

Thursday, October 11, 2007

responsabilidade


amor mudo



Ardendo de amor, as cigarras
cantam: mais belos porém
são os pirilampos, cujo mudo amor
lhes queima o corpo!


Herberto Helder

Wednesday, October 10, 2007

gotas

A música. Ainda a música e cada vez mais a música. Para preencher o espaço do que falta. Como se fosse possível compensar-me, preencher um vazio...
Esta é uma das músicas da minha vida.


Train, Drops of Júpiter

(...)

Tell me did the wind sweep you off your feet
Did you finally get the chance to dance along the light of day
And head back to the milky way
And tell me, did venus blow your mind
Was it everything you wanted to find
And did you miss me while you were looking for yourself out there

Can you imagine no love, pride, deep-fried chicken
Your best friend always sticking up for you even when I know youre wrong
Can you imagine no first dance, freeze dried romance five-hour phone
Conversation
The best soy latte that you ever had . . . and me

Tell me did the wind sweep you off your feet
Did you finally get the chance to dance along the light of day
And head back toward the milky way

Sunday, October 7, 2007

close to me

Continuo a gostar deste som...
Close to me, de The Cure, uma excelente companhia na juventude. E hoje também!


aquecimento global 2

O vídeo que se segue foi feito por um grupo de jovens brasileiros, de Recife.
Importa mesmo ver. Mesmo que choque. Afinal é mesmo este o mundo em que vivemos. E somos nós que o fazemos...

Saturday, October 6, 2007

e-ventos tecnológicos

O meu amigo Filipe Silva tem um blogue muito interessante, que vale a pena visitar. Cheio de informações importantes relacionadas com informática, um montão de truques fáceis para aproveitar recursos e muitas sugestões de sites e programas para quase fazer magia com o computador. Podem visitá-lo em http://e-ventos-tecnologicos.blogspot.com/

Wednesday, October 3, 2007

aquecimento global

Para pensar...




e agir!

Tuesday, October 2, 2007

não sei como dizer-te

Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

(...)

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço -
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,


que te procuram.


Herberto Helder

Friday, September 28, 2007

fallin'



Ela caía, caía...
e sabia que a segurá-la estariam os braços dele, prontos para um abraço.
E que cada abraço não era só um aperto dos braços, mas uma entrega de corpo inteiro.
E enquanto caía preparava-se para o corpo dele, já à espera...

Monday, September 24, 2007

magia


Peniche

Saudades das férias... e da calma das férias, da paz das férias e da pasmaceira das férias.
De não fazer nada. De não me preocupar com nada. E de sentir esta luz mágica a invadir-me...

namoro


Almada Negreiros, Namoro

A curva dos ombros dele tinha sido moldada à medida da cabeça dela. Para que ela neles pudesse pousar a cabeça e para que ficassem, os dois, a repousar, tranquilos...

Sunday, September 23, 2007

...

Gostava de ter poderes sobre o tempo. Para o acelerar quando não estou contigo. E para o travar nos momentos partilhados...



Joss Stone, Spoiled

Wednesday, September 19, 2007

no ar...




Bastava dizer-lhe bom-dia para que dentro dela se acendesse uma chama que a aquecia...
E ela, tomada por essa energia dançava, rodopiando no ar, e sorria...

Tuesday, September 18, 2007

diferente

Muito bonita esta múcica de Gotan Project, Diferente. É realmente diferente. Vale a pena ouvir...

Sunday, September 16, 2007

deus


Miguel Ângelo, Criação de Adão


"No princípio Deus criou o Céu e a Terra."
As primeiras palavras da Bíblia anunciam a criação do mundo por esta energia não criada, esta omnipotência criadora que nenhuma inteligência é capaz de abranger, a quem os homens chamam Deus porque é preciso denominar aquele com quem se fala, aquele a quem se implora, aquele a quem se ora, aquele a quem se adora ou a quem se odeia.


Jacqueline Dauxois, in "As mais belas histórias de amor da Bíblia"

Wednesday, September 12, 2007

lógica



"Se não tivesse acordado, tinha continuado a dormir!"

no chão


Egon Schiele, Casal de amantes

Um beijo,
o desejo guardado na tua mão
e o meu corpo já no chão...

Saturday, September 8, 2007

o amor é o amor


Egon Schiele, Embrace

O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!

Alexandre O´Neill

Thursday, September 6, 2007

assim...



Às vezes queria ficar assim...
Só com as tuas mãos e as minhas mãos,
unidas, entrelaçadas, quase presas, assim...
As minhas mãos e as tuas mãos...
Só, assim...

Wednesday, September 5, 2007

admirável


Luciano Pavarotti com Bono, em 2003.
Para ver, ouvir e sentir... Vale a pena!

sem medo...


Sunday, September 2, 2007

Friday, August 31, 2007

40



Se eu pudesse traduzir a minha vida ( ou a de que guardo memória até hoje...) por uma imagem, seria esta.


Hoje faço 40 anos.
Parabéns para mim!

Thursday, August 30, 2007

amizade


Egon Schiele, Amizade


nesta nudez de espaço, de tempo
despidos de vergonha e de medos
quase a alma a nu, transparente
e o abraço, terno e quente...

Tuesday, August 28, 2007

a luta pela recordação



Emily Carr, Tronco de Árvore

Os meus pensamentos foram-se afastando de mim, mas, chegado a um caminho acolhedor, repilo os tumultuosos pesares e detenho-me, de olhos fechados, enervado num aroma de afastamento que eu próprio fui conservando, na minha pequena luta contra a vida.
Só vivi ontem. Ele tem agora essa nudez à espera do que deseja, selo provisório que nos vai envelhecendo sem amor. Ontem é uma árvore de longas ramagens, e estou estendido à sua sombra, recordando. De súbito, contemplo, surpreendido, longas caravanas de caminhantes que, chegados como eu a este caminho, com os olhos adormecidos na recordação, entoam canções e recordam.
E algo me diz que mudaram para se deter, que falaram para se calar, que abriram os olhos atónitos ante a festa das estrelas para os fechar e recordar...
Estendido neste novo caminho, com os olhos ávidos florescidos de afastamento, procuro em vão interceptar o rio do tempo que tremula sobre as minhas atitudes.
Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias...

Pablo Neruda

momento


"O que vivemos, já ninguém nos tira!"

Sunday, August 19, 2007

"Deus move o jogador e este move a peça.
Que Deus por trás de Deus o jogo começa?"

Jorge Luís Borges

olhar


Podia escrever-te um poema complexo e sem nexo.
Mas deixo-te o meu olhar.
Só tu me sabes de cor...

turvo



Mesmo a água mais límpida, quando corre num rio, pode não deixar ver o seu leito...

Thursday, August 16, 2007

amantes


Magritte, Os amantes I


Nas mãos guardo o calor das tuas.
Na minha pele o teu cheiro, sempre o teu cheiro…
Em segredo guardarei o teu rosto
E a minha memória aprisionará o teu olhar.
Nenhum brilho será, nunca, maior do que o teu…

Wednesday, August 15, 2007

cântico negro

Nas férias há tempo para viver, de forma intensa, o que não se consegue ao longo do resto do ano. Por isso, e porque todas as rotinas se alteram,é mais difícil manter o blogue actualizado.

Já há uns dias que ando a pensar neste poema, de José Régio, na voz sublime de Maria Bethânia, que não resisto a partilhar.

Tuesday, August 7, 2007

mergulhar



(...)
Looking so damn lonely
Looking for a soul
Trying hard to cover up
The emptiness
The hole
What you’re calling culture
Is just arcades and malls
I can’t hear myself think
I can’t hear my heart sink
Here’s a diversion
A howl at the moon
The only time I feel alive is when I’m with you
Go down
Down to the sea
Down to the ocean
She’s calling to me
Gonna wash away my..... fears of this place
Gonna wash away my..... tears from your face
(...)

Tim Booth, Down to the sea

vou



Desta vez para o mar.
À procura da paz que só a ele posso ir buscar...
Não tarda estarei por cá de novo.

Monday, August 6, 2007

sol


Miró, Sol vermelho

E se eu fosse o sol e tu o Verão
ou eu a luz na escuridão?

E se eu fosse o vento na madrugada
e tu a lua, no céu rasgada?

E se eu fosse o pássaro e tu a asa,
e eu o beijo numa boca em brasa?


aprender


Schwitters, Arco-íris

Uma das coisas mais bonitas que ouvi nos últimos tempos foi uma frase, de um jovem de 20 anos, em resposta a um amigo que se queixava de que na Universidade havia cadeiras cujas matérias nunca lhe serviriam para nada:

" Nunca te importes de aprender mais do que aquilo de que precisas..."

Dá que pensar.
E que bom seria se os nossos jovens pensassem todos assim...

Sunday, August 5, 2007

margens


Barragem de Venda Nova, Gerês ( Concelho de Montalegre)

Houve tempo, nestes dias de férias, para a leitura e para me reapaixonar por Alçada Baptista, lendo O Riso de Deus. Ainda não terminei, porque demoro muito a lê-lo. Por vezes, páro a meio da leitura para interiorizar alguns parágrafos. Um dos encantos desta escrita, é o de nos obrigar a reflectir sobre a nossa história pessoal, sobre o que somos ou pretendemos ser.


"(...) Os que sonham a dormir sabem, de manhã, que isso era uma ilusão. Mas os que sonham de olhos abertos acreditam que o estofo do futuro será feito desse sonho. Por isso são tão inquietantes aos olhos dos que preferiram ficar por aí, convencidos de que a vida se vive nestes limites, e nem ousam tomar conhecimento daquilo que se pode arriscar para experimentar as suas margens. (...)"

E como eu gosto de viver nas margens...

regresso


Sete lagoas, Serra do Gerês

Foi como estava previsto.
Descasquei muitas laranjas...
E como eu gosto de o fazer para eles todos...
E vivemos cada pedacinho, intensamente. Fizemos longas caminhadas (longas são mesmo muito longas, são horas a caminhar...) debaixo de Sol à procura dos melhores lugares. Encontrámos as melhores cascatas e lagoas, rimos muito, dissemos muitos, muitos disparates, descansámos das rotinas... consolidámos a amizade que sentimos uns pelos outros...

Wednesday, August 1, 2007

férias




Amanhão vou de férias. São só cinco dias.
No Domingo estarei de regresso.
Depois conto como foi...
Sei que vou estar em contacto com a natureza, ler, e viver os meus amigos maravilhosos.
E vou descascar laranjas para eles. Porque o cheiro que se entranha nas mãos tem um sabor doce de partilha...

Tuesday, July 31, 2007

uma noite para comemorar



Esta é só uma noite para partilhar
qualquer coisa que ainda podemos guardar
cá dentro num lugar a salvo para onde correr
quando nada bate certo
e se fica a céu aberto
sem saber o que fazer

Esta é só uma noite para comemorar
qualquer coisa que ainda podemos salvar
no tempo um lugar pra nós onde demorar
quando nada faz sentido
e se fica mais perdido
e se anseia pelo abraço de um amigo

Esta é só uma noite para me vingar
do que a vida foi fazendo sem nos avisar
foi-se acumulando em fotografias,
em distâncias e saudade numa dor
que nunca acaba e faz transbordar os dias

Esta é só uma noite para me lembrar
que há qualquer coisa infinita como firmamento,
um sorriso, um abraço
que transcende o tempo
e ter medo como dantes de acordar
a meio da noite a precisar de um regaço

Mafalda Veiga

sem palavras


Gustave Klimt, Mãe e filho
O amor também se faz de silêncio...

Monday, July 30, 2007

música de filme





Tiago Bettencourt e Dalila do Carmo, Música de filme.

Para o João, que ficou fascinado com esta versão desta música, encantado com a voz da Dalila. E porque com o João partilho muitos momentos bons e muitas, muitas gargalhadas...

E para ti. Porque "és sitio onde as mãos se dão"...

henry lee



lá lá lá lá lá lá lá lá lá li

lábios e lábios


Andy Warhol, Lábios

Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade

epigrama teológico


José Cutileiro

Concordo com Delmore Schwartz:
"uma mulher nua é uma prova da existência de Deus".
Podia dizer: uma prova suficiente. Apenas
o indispensável para que a dúvida se dissipe,
e o grande cenário do Paraíso se abra
em écran gigante e som estereofónico (sim:
os anjos cantam por cima disto).

Nuno Júdice

Sunday, July 29, 2007

respira

Cá está mais uma daquelas músicas que me marcam a vida. Esta é daquelas que me está mesmo no coração. Transmite-me as melhores sensações e dá-me as melhores memórias. Sabe bem, fazer a autoestrada entre a Costa Nova e Aveiro, de manhã cedo, com o volume do rádio do carro no limite do audível, com o contaquilómetros no limite do possível ( muito, muito, ilegal...).
Ouçam. Bem alto. Fechem os olhos.
Para ouvir e sentir...

amigos




Cabril, Gerês

Tenho alguns amigos maravilhosos.
Há pessoas que entram na nossa vide e nunca mais saem. Que constroem casas no nosso coração e lá ficam, para sempre.
Daqui a dois dias vou sair, em liberdade plena, com onze desses amigos. Vou acampar (numa tenda mesmo, a dormir num saco cama no chão...), pela primeira vez na minha vida. Para um sítio paradisíaco, com pouca gente, em contacto com a natureza.
Vamos viver natureza. E vamos, sobretudo, viver cinco dias juntos. Para matar as saudades que um ano inteiro de afastamento nos deixam. O que significa que vamos viver-nos, em pleno, uns aos outros. Vamos caminhar muitas horas, rir muito e dormir muito menos. Vamos dizer disparates até não poder mais, vamos cozinhar em conjunto refeições muito "completas e equilibradas", vamos ouvir silêncio e ouvir-nos uns aos outros.
Vamos cantar desafinado, as canções que todos sabemos de cor, vamos encher o coração de nós, ou seja, de coisas muito boas.
Vamos dizer muitas lamechices, abraçar-nos muito e chorar... Vamos mostrar uns aos outros, na forma que cada um sabe, que é sempre a melhor forma, que nos amamos...
E que bem sabe a perspectiva disso tudo que vai acontecer...