Nós temos cinco sentidos: são dois pares e meio de asas. Como quereis o equilíbrio? (David Mourão-Ferreira)
Monday, December 24, 2007
natal
Sunday, December 16, 2007
o lugar
vejo o sangue que correu
Wednesday, December 12, 2007
Sunday, December 9, 2007
intimidade
Sunday, December 2, 2007
rir
Thursday, November 22, 2007
o eclipse do coronel
Eclipse total do Sol, fotografado na Turquia em 29 de Março de 2007. (Imagem do site da NASA)
Ia haver um eclipse do Sol.
Na véspera à noite, o coronel dum regimento chamou os seus sargentos e disse-lhes: “Amanhã de manhã haverá um eclipse do sol. O regimento reunir-se-á na praça de armas. Eu virei pessoalmente explicar o eclipse antes do exercício. Se o tempo não estiver favorável reunir-nos-emos no anfiteatro como é hábito”.
Imediatamente os sargentos foram redigir a sua ordem do dia: “um eclipse do sol terá lugar amanhã de manhã, por ordem do coronel. O regimento reunir-se-á na praça de armas aonde o coronel virá dirigir o eclipse em pessoa. Se o tempo não estiver favorável o eclipse terá lugar no anfiteatro”.
Rebière, Mathématiques et Mathématiciens, Paris 1925
provocações
Albert Einstein, (1879-1955) - Prémio Nobel da Física em 1921
"Para os crentes, Deus está no princípio de todas as coisas; Para os cientistas, no final de toda a reflexão".
Max Planck, (1858-1947) - Prémio Nobel da Física em 1918
Monday, November 19, 2007
into my arms
I don't believe in an interventionist God
But I know, darling, that you do
But if I did I would kneel down and ask Him
Not to intervene when it came to you
Not to touch a hair on your head
To leave you as you are
And if He felt He had to direct you
Then direct you into my arms
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms
And I don't believe in the existence of angels
But looking at you I wonder if that's true
But if I did I would summon them together
And ask them to watch over you
To each burn a candle for you
To make bright and clear your path
And to walk, like Christ, in grace and love
And guide you into my arms
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms
And I believe in Love
And I know that you do too
And I believe in some kind of path
That we can walk down, me and you
So keep your candlew burning
And make her journey bright and pure
That she will keep returning
Always and evermore
Nick Cave
eus
Wednesday, November 14, 2007
o essencial
toque
Tuesday, November 13, 2007
rosto
Paul Klee, Ancient sound
(...)
Muito cedo na minha vida foi tarde demais. Aos dezoito anos era já tarde demais. Entre os dezoito e os vinte e cinco anos o meu rosto partiu numa direcção imprevista. Aos dezoito anos envelheci. Não sei se é assim com toda a gente, nunca perguntei. Parece-me ter ouvido falar dessa aceleração do tempo que nos fere por vezes quando atravessamos as idades mais jovens, mais celebradas da vida. Este envelhecimento foi brutal. Vi-o apoderar-se dos meus traços um a um, alterar a relação que havia entre eles, tornar os olhos maiores, o olhar mais triste, a boca mais definitiva, marcar a fronte de fendas profundas. Em vez de me assustar, vi operar-se este envelhecimento do meu rosto com o interesse que teria, por exemplo, pelo desenrolar de uma leitura. Sabia também que não me enganava, que um dia ele abrandaria e retomaria o seu curso normal. As pessoas que me tinham conhecido aos dezassete anos aquando da minha viagem a França ficaram impressionadas quando me voltaram a ver, dois anos depois, aos dezanove anos. Conservei esse novo rosto. Foi o meu rosto. Envelheceu ainda, evidentemente, mas relativamente menos do que deveria. Tenho um rosto lacerado de rugas secas e profundas, a pele quebrada. Não amoleceu como certos rostos de traços finos, conservou os mesmos contornos mas a sua matéria está destruída. Tenho um rosto destruído.(...)
Marguerite Duras, in "O amante"
Wednesday, November 7, 2007
felicidade
Marguerite Yourcenar, in "Memórias de Adriano"
Sunday, November 4, 2007
eu sei que vou te amar
Saturday, November 3, 2007
memórias
Gustave Klimt, Hope II
Há pequenas impressões finas como um cabelo e que, uma vez desfeitas na nossa mente, não sabemos aonde elas nos podem levar.
Hibernam, por assim dizer, nalgum circuito da memória e um dia saltam para fora, como se acabassem de ser recebidos.
Só que, por efeito desse período de gestação profunda, alimentada ao calor do sangue e das aquisições da experiência temperada de cálcio e de ferro e de nitratos, elas aparecem já no estado adulto e prontas a procriar.
Porque as memórias procriam como se fossem pessoas vivas.
Agustina Bessa-Luís, in Antes do Degelo'
Thursday, November 1, 2007
Monday, October 29, 2007
manhã
Fernando Botero, Quarto de banho, 1989
Ela gostava de se arranjar com calma.
De manhã, logo depois de acordar, tomava um banho quente que a fazia sentir mais acordada.
Depois do banho ficava a ver-se ao espelho. Ficava, por muito tempo, a acariciar o rosto, a perceber cada contorno do corpo. Dava-lhe um prazer imenso acariciar a pele, passar as mãos pelo cabelo...
Perfumava-se e deliciava-a sentir como o perfume se alterava em contacto com a sua pele, como o odor se alterava com o tempo...
E, enquanto assim, embrenhada com o prazer do corpo nú, ouvia os ruídos da rua: os carros que passavam, os que paravam, as vozes de quem conversava lá fora.
E ouviu o carro que parou e o barulho da sua caixa do correio... e com mais prazer pressentiu que aquele som era o mensageiro de uma sensação ainda melhor do que o toque da sua pele...
E a sua imagem no espelho sorriu.
Tuesday, October 23, 2007
carta
Fernando Botero, Homem com cão
Parou o carro.
Já antes, por várias vezes, tinha passado na rua dela sem ter coragem de parar. E, afinal, era tão simples!
Desta vez parou.
No meio da rua, mesmo sem desligar o carro, segurou a carta e quase correu para o passeio.
Já trazia no rosto um sorriso. Com um gesto decidido colocou a carta na caixa do correio e voltou-se para regressar ao carro.
Iluminado. Um sorriso ainda mais aberto. No olhar trazia a antecipação da resposta.
E imaginava-a a abrir a caixa do correio, a olhar para o envelope sem remetente, imaginava o espanto no seu rosto, o sorriso da surpresa. E ela a abrir o envelope e a ler a carta e o rubor na face que sabia a assaltaria.
E sabia também, e agora o sorriso feliz que trazia enquanto se encaminhava de novo para o carro, já traduzia essa certeza, que ela não tardaria a responder-lhe.
E, ainda no meio da rua, sentia já o cabelo dela, as cócegas que os caracóis dela lhe iriam fazer na palma da mão. Sentia já o cheiro dela, a maciez da pele dela, o beijo dela, a voz dela, as palavras doces dela, o riso dela, o toque da mão dela…
E, com os olhos a emoldurar um sorriso satisfeito, entrou no carro e arrancou.
Monday, October 22, 2007
asas
Visitar espreitar espiar
Mil casas do ar
As asas não se vão cortar
Asas são para combater
Num lugar infinito
para respirar o ar
As asas são
para proteger te pintar
Não te esquecer
Visitar espreitar-te
bem alto do ar
Só quando quiseres pousar
da paixão que te roer
É um amor que vês nascer
sem prazo, idade de acabar
Não há leis para te prender
aconteça o que acontecer.
GNR
Thursday, October 18, 2007
aquecimento global (3)
Berlengas, Agosto 2007
Alguns dos dias de Verão foram muito, mas mesmo muito quentes.
E quando assim é, há que encontrar soluções. As senhoras das fotografias encontraram uns bonés muito engraçados, com uma pequena ventoínha instalada na pala, o que permitia terem sempre o rosto fresquinho. Claro que, para que as ventoínhas funcionem é necessário que lhes seja fornecida energia. As pilhas são pesadas e, além disso, têm consequências muito nefastas sobre o ambiente.
Mas até para isso há solução. E esta, muito amiga do ambiente: atrevia-me a chamar-lhe "painel solar"!
fazes muito mais que o sol
Esta música é assim. Lembra-me as gargalhadas partilhadas, olhares de cumplicidade, sorrisos, beijos, passeios de mãos dadas a fugir da chuva no verão...
Tiago Bettencourtt e Mantha, Canção simples
E o gosto da pele
e a cor dos olhos
e os pés na areia molhada
tu
e a felicidade!
Sunday, October 14, 2007
para ser grande, sê inteiro
Vou recordar-te sempre pelo que, da vida, me ensinaste...
"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive"
Ricardo Reis
Thursday, October 11, 2007
amor mudo
Wednesday, October 10, 2007
gotas
Esta é uma das músicas da minha vida.
Train, Drops of Júpiter
(...)
Tell me did the wind sweep you off your feet
Did you finally get the chance to dance along the light of day
And head back to the milky way
And tell me, did venus blow your mind
Was it everything you wanted to find
And did you miss me while you were looking for yourself out there
Can you imagine no love, pride, deep-fried chicken
Your best friend always sticking up for you even when I know youre wrong
Can you imagine no first dance, freeze dried romance five-hour phone
Conversation
The best soy latte that you ever had . . . and me
Tell me did the wind sweep you off your feet
Did you finally get the chance to dance along the light of day
And head back toward the milky way
Sunday, October 7, 2007
close to me
Close to me, de The Cure, uma excelente companhia na juventude. E hoje também!
aquecimento global 2
Importa mesmo ver. Mesmo que choque. Afinal é mesmo este o mundo em que vivemos. E somos nós que o fazemos...
Saturday, October 6, 2007
e-ventos tecnológicos
Wednesday, October 3, 2007
Tuesday, October 2, 2007
não sei como dizer-te
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
(...)
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço -
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.
Herberto Helder
Friday, September 28, 2007
fallin'
Ela caía, caía...
e sabia que a segurá-la estariam os braços dele, prontos para um abraço.
E que cada abraço não era só um aperto dos braços, mas uma entrega de corpo inteiro.
E enquanto caía preparava-se para o corpo dele, já à espera...
Monday, September 24, 2007
magia
namoro
Sunday, September 23, 2007
...
Joss Stone, Spoiled
Wednesday, September 19, 2007
no ar...
Tuesday, September 18, 2007
diferente
Muito bonita esta múcica de Gotan Project, Diferente. É realmente diferente. Vale a pena ouvir...
Sunday, September 16, 2007
deus
Wednesday, September 12, 2007
Saturday, September 8, 2007
o amor é o amor
Egon Schiele, Embrace
O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...
O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!
Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!
Alexandre O´Neill
Thursday, September 6, 2007
assim...
Wednesday, September 5, 2007
Sunday, September 2, 2007
Friday, August 31, 2007
40
Thursday, August 30, 2007
amizade
Tuesday, August 28, 2007
a luta pela recordação
Emily Carr, Tronco de Árvore
Sunday, August 19, 2007
Thursday, August 16, 2007
amantes
Wednesday, August 15, 2007
cântico negro
Nas férias há tempo para viver, de forma intensa, o que não se consegue ao longo do resto do ano. Por isso, e porque todas as rotinas se alteram,é mais difícil manter o blogue actualizado.
Já há uns dias que ando a pensar neste poema, de José Régio, na voz sublime de Maria Bethânia, que não resisto a partilhar.
Tuesday, August 7, 2007
mergulhar
(...)
Looking so damn lonely
Looking for a soul
Trying hard to cover up
The emptiness
The hole
What you’re calling culture
Is just arcades and malls
I can’t hear myself think
I can’t hear my heart sink
Here’s a diversion
A howl at the moon
The only time I feel alive is when I’m with you
Go down
Down to the sea
Down to the ocean
She’s calling to me
Gonna wash away my..... fears of this place
Gonna wash away my..... tears from your face
(...)
Tim Booth, Down to the sea
vou
Monday, August 6, 2007
aprender
Schwitters, Arco-íris
Uma das coisas mais bonitas que ouvi nos últimos tempos foi uma frase, de um jovem de 20 anos, em resposta a um amigo que se queixava de que na Universidade havia cadeiras cujas matérias nunca lhe serviriam para nada:
" Nunca te importes de aprender mais do que aquilo de que precisas..."
Dá que pensar.
E que bom seria se os nossos jovens pensassem todos assim...
Sunday, August 5, 2007
margens
Barragem de Venda Nova, Gerês ( Concelho de Montalegre)
Houve tempo, nestes dias de férias, para a leitura e para me reapaixonar por Alçada Baptista, lendo O Riso de Deus. Ainda não terminei, porque demoro muito a lê-lo. Por vezes, páro a meio da leitura para interiorizar alguns parágrafos. Um dos encantos desta escrita, é o de nos obrigar a reflectir sobre a nossa história pessoal, sobre o que somos ou pretendemos ser.
"(...) Os que sonham a dormir sabem, de manhã, que isso era uma ilusão. Mas os que sonham de olhos abertos acreditam que o estofo do futuro será feito desse sonho. Por isso são tão inquietantes aos olhos dos que preferiram ficar por aí, convencidos de que a vida se vive nestes limites, e nem ousam tomar conhecimento daquilo que se pode arriscar para experimentar as suas margens. (...)"
E como eu gosto de viver nas margens...
regresso
Sete lagoas, Serra do Gerês
Foi como estava previsto.
Descasquei muitas laranjas...
E como eu gosto de o fazer para eles todos...
E vivemos cada pedacinho, intensamente. Fizemos longas caminhadas (longas são mesmo muito longas, são horas a caminhar...) debaixo de Sol à procura dos melhores lugares. Encontrámos as melhores cascatas e lagoas, rimos muito, dissemos muitos, muitos disparates, descansámos das rotinas... consolidámos a amizade que sentimos uns pelos outros...
Wednesday, August 1, 2007
férias
Tuesday, July 31, 2007
uma noite para comemorar
Esta é só uma noite para partilhar
Esta é só uma noite para comemorar
Esta é só uma noite para me vingar
Esta é só uma noite para me lembrar
Monday, July 30, 2007
música de filme
Tiago Bettencourt e Dalila do Carmo, Música de filme.
Para o João, que ficou fascinado com esta versão desta música, encantado com a voz da Dalila. E porque com o João partilho muitos momentos bons e muitas, muitas gargalhadas...
E para ti. Porque "és sitio onde as mãos se dão"...
lábios e lábios
Andy Warhol, Lábios
Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.
Eugénio de Andrade
epigrama teológico
José Cutileiro
Concordo com Delmore Schwartz:
"uma mulher nua é uma prova da existência de Deus".
Podia dizer: uma prova suficiente. Apenas
o indispensável para que a dúvida se dissipe,
e o grande cenário do Paraíso se abra
em écran gigante e som estereofónico (sim:
os anjos cantam por cima disto).
Nuno Júdice
Sunday, July 29, 2007
respira
Ouçam. Bem alto. Fechem os olhos.
Para ouvir e sentir...
amigos
Cabril, Gerês
Tenho alguns amigos maravilhosos.Há pessoas que entram na nossa vide e nunca mais saem. Que constroem casas no nosso coração e lá ficam, para sempre.
Daqui a dois dias vou sair, em liberdade plena, com onze desses amigos. Vou acampar (numa tenda mesmo, a dormir num saco cama no chão...), pela primeira vez na minha vida. Para um sítio paradisíaco, com pouca gente, em contacto com a natureza.
Vamos viver natureza. E vamos, sobretudo, viver cinco dias juntos. Para matar as saudades que um ano inteiro de afastamento nos deixam. O que significa que vamos viver-nos, em pleno, uns aos outros. Vamos caminhar muitas horas, rir muito e dormir muito menos. Vamos dizer disparates até não poder mais, vamos cozinhar em conjunto refeições muito "completas e equilibradas", vamos ouvir silêncio e ouvir-nos uns aos outros.
Vamos cantar desafinado, as canções que todos sabemos de cor, vamos encher o coração de nós, ou seja, de coisas muito boas.
Vamos dizer muitas lamechices, abraçar-nos muito e chorar... Vamos mostrar uns aos outros, na forma que cada um sabe, que é sempre a melhor forma, que nos amamos...
E que bem sabe a perspectiva disso tudo que vai acontecer...