Thursday, May 14, 2009

a maior de todas as rãs



Dizia-se a maior rã de todas as rãs que havia no mundo. Realmente, era grande. Grande e luzidia, no charco onde habitava, mais nenhuma bicheza se lhe comparava em tamanho. Também, para além da rãs, só havia mosquitos.
– Sou o maior bicho do reino animal – dizia a rã gorda, que nunca tinha saltado para fora daquele charquinho de nada, nem uma única vez.
As outras rãs não quiseram contrariá-la. Também eram pouco viajadas.
– Além de ser o maior bicho do reino animal, sou o mais forte, o mais corajoso, o mais bonito, o mais inteligente, o mais…
Quando ela se punha com esta discursata, adeus. As outras rãs mergulhavam, para não terem de ouvi-la.
Até que, um dia, foi beber ao charco um boi. A sombra dele toldou o Sol.
– Venha ver, colega, um bicho tamanhão, mil vezes maior do que a sua gabarolice – disseram à rã matulona as colegas rãzinhas, a estremecerem de riso.
Ela já o tinha visto, mas fez de conta que não ligava.
– Se eu quiser, fico do tamanho dele ou até maior – disse.
– O meu volume está muito concentrado, querem ver?
As outras queriam. Puseram-se à roda dela, a gritarem:
– Cresça e apareça. Cresça e apareça.
A rã gorda fez-lhes a vontade. Engoliu ar e a pele do ventre distendeu-se.
– Mais, mais – gritaram as outras rãs, como se estivessem num circo.
Ela inspirou mais e mais, que até parecia uma câmara de ar ou um colchão de praia.
– Ainda mais – incitavam-na as colegas.
A rã já tinha a forma de um balão. Nada que se parecesse com um boi, mas nunca se vira rã tão batoque como ela.
Tinha a pele de tal forma esticada que se lhe via tudo por dentro.
– Mais, mais – gritavam as outras.
E ela, naquela vontade de ser maior do que um boi, engoliu mais ar, tanto, tanto que rebentou. Pum!
O boi assustou-se e fugiu. As rãs enfiaram-se para dentro de água, nem que tivesse acabado o mundo.
Quando a calma regressou ao charco, voltaram à superfície, numa grande excitação. Não falavam de outra coisa senão daquela rã presumida que quisera igualar-se a um boi.
Ainda hoje é a conversa preferida das rãs, quando coaxam umas com as outras, em noites de Lua Cheia.
António Torrado

1 comment:

Sérgio Magueta said...

Ora aqui está uma bela de uma história... das que gostamos de ouvir, ensinar... e aprender. É que em todos os charcos... há sempre um sapo! Beijinhos!