Saturday, November 29, 2008

ciclo


Marc Chagall


A solução faz parte do paradoxo: vemos
o lado invisível das coisas, e só um cair de
pétalas na areia nos revela a sua essência,
como se não houvesse nada mais a dizer.
Porém, ao pensar naquilo que existe, e
no que está para além do que vemos, a
revelação do enigma torna-se, por sua vez,
uma incógnita, como se o problema fizesse
parte da solução. Não adianta, por isso,
pedir-te que te levantes, ou que esqueças
o que fez cair as flores. O outono é uma
parte do teu enigma; e se o esqueces,
quando sonhas a primavera, logo o ruído
do vento que afugenta as aves te restitui
a realidade que não desejas.

Nuno Júdice

Friday, November 7, 2008

a ver estrelas

Para quem gosta de ver estrelas, constelações, nebulosas, galáxias, planetas, cometas, e outros corpos celestes, vale a pena visitar o site Astronomy Picture of the Day, da NASA. A entrada pode ser feita em http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/archivepix.html. Depois, é só escolher o dia e deixar repousar os olhos nas imagens que o céu nos dá.
Aqui fica a fotografia de 15 de Outubro.






Constelação Orion.

dançar no planeta Terra

Dançar é uma forma de exprimir alegria. E, felizmente, a alegria é contagiosa. É impossível ver até ao fim sem sorrir.


Matt Harding, no site da NASA que publica uma fotografia por dia. Desta vez foi diferente...

Sunday, November 2, 2008

trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das água
se os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre