Thursday, January 29, 2009

passion

Rodrigo Leão, com a voz de Lula Pena...

Wednesday, January 28, 2009

respira!

Para ouvir alto. Muito alto. Sei que faz mal aos ouvidos, mas é só de vez em quando...

Tuesday, January 27, 2009

plateia

Não sei quantos seremos,mas qu'importa?!
um só que fosse e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.


Miguel Torga, "Câmara Ardente", 1962

Tuesday, January 20, 2009

espera


Fernando Botero, Mulher com um livro 1987

Ela gostava de escrever. E o que gostava mais era de escrever num caderno de folhas lisas e amareladas. A lápis. Não para poder apagar, porque nunca apagava o que escrevia, mas porque o som do lápis no papel lhe dava um prazer especial. Não escrevia com muito cuidado, nem se preocupava em usar palavras muito bonitas, nem figuras de estilo. Escrevia o que sentia e isso fazia com que se sentisse muito bem. Liberta. Para ela, responder-lhe era imperioso. Porque um homem que faz uma mulher sentir-se bem consigo própria, merece que ela lhe dedique o seu tempo. E mais do que tempo, merece que ela se lhe dedique.
E foi o que fez. Com o caderno e o lápis na mão, começou a dizer o que sentia. E foi-lhe dizendo como ele lhe fazia bem, como a fazia ter vontade de tantas coisas que ela julgava adormecidas. Escreveu como gostava de tudo o que ele lhe dizia, como se sentia bem com as palavras que dele recebia. Falou-lhe da vontade que tinha de passear com ele à beira-mar, em dias em que o céu se veste de tons de cinzento, o Sol se envergonha e a chuva inunda a areia de cheiros intensos. E das mãos dele, ansiadas nas suas, do toque da pele, do cheiro da pele, do gosto da pele. E dos olhos, do sorriso e dos espelhos que nele via. E disse-lhe dos desejos, dos sonhos, dos momentos em que, quieta, calada, em sossego, pensava nele. Falou-lhe do tempo e de todas as horas, da ternura de que tanto gostava, dos encantos da placidez dos fins de tarde, que nem queria querer tanto que passassem juntos. E dos primeiros raios de Sol da manhã, que imaginava a cobri-lo, a rodeá-lo, a abraçá-lo, junto com os braços dela. E dos beijos, de que adivinhava gostar, das carícias, dos mimos, dos segredos que queria trocar. Confessou-lhe o fogo que a consumia, o desejo que nela ardia.
Escreveu tudo o que lhe foi passando pela cabeça, sem medos, sem esforço, com tudo dela ali escrito, toda ela ali…
E deitou-se, repousando, à espera.

Monday, January 19, 2009

sons

Para descontrair...



Keith Jarret, Solo Concert

construção

Chico Buarque, Construção

Wednesday, January 14, 2009

amanhecer


amanhecer em dia de muito frio.
da porta da minha casa.

Sunday, January 11, 2009

leitura


Fernando Botero, "A carta", 1976

Enquanto lia, ou enquanto lhe bebia as palavras, as que ele lhe escrevera em folhas de papel branco, a sua pele revestia-se de luz. Luz que era ele. Como se em cada palavra parte dela lhe tocasse. Ela sentia-lhe o cheiro, no cheiro do papel, sentia-lhe a voz a cada letra que juntava, ouvia-o, como se sussurrasse junto a si. E assim, sentia um arrepio, parte dela que gelava, parte dela que fervia…
Ele falava do odor do corpo dela e ela sentia, o odor do corpo dela e o odor do corpo dele…
Ele escrevia sobre o cabelo dela e ela, enquanto o lia, imaginava os seus dedos entrelaçados no cabelo dele…
Ele dizia o sorriso dela e ela ansiava o sorriso dele…
Ele pintava em letras desenhadas o seu rosto, as suas mãos, os seus olhos e o brilho desses olhos, os caracóis do cabelo, as curvas do seu corpo…
E sentia, ela, uma lágrima correr-lhe pela face. E quanto mais lia, mais a lágrima corria. E estremecia, toda ela, na ansiedade do toque da pele dele, sentindo-se já beijada, acariciada… E nunca se tinha sentido tão bonita!
Era urgente responder-lhe!

Saturday, January 10, 2009

bolero de Ravel

Ouvi, no limite do que os meus ouvidos puderam suportar. Assim, tudo o resto foi silêncio...


Monday, January 5, 2009

segredos



Imagem elaborada em www.wordle.net, com base no poema vencedor do VII Concurso Literário Jovem, promovido pela Câmara Municipal de Ílhavo, no escalão 2º ciclo, modalidade Texto Poético.



Segredos...

Que me segreda o vento?
O vento segreda-me frescura,
sempre que sopra do lado do mar.
Segreda-me alegria,
se antes de chegar,
se cruza com um doce olhar.
E conta-me histórias de outras terras,
aventuras de enfeitiçar.
E fala,
como se fosse musica,
quando é brisa,
para me acalmar…

Pedro Nuno Alegrete Augusto, 10 anos