Monday, October 29, 2007

manhã


Fernando Botero, Quarto de banho, 1989

Ela gostava de se arranjar com calma.
De manhã, logo depois de acordar, tomava um banho quente que a fazia sentir mais acordada.
Depois do banho ficava a ver-se ao espelho. Ficava, por muito tempo, a acariciar o rosto, a perceber cada contorno do corpo. Dava-lhe um prazer imenso acariciar a pele, passar as mãos pelo cabelo...
Perfumava-se e deliciava-a sentir como o perfume se alterava em contacto com a sua pele, como o odor se alterava com o tempo...
E, enquanto assim, embrenhada com o prazer do corpo nú, ouvia os ruídos da rua: os carros que passavam, os que paravam, as vozes de quem conversava lá fora.
E ouviu o carro que parou e o barulho da sua caixa do correio... e com mais prazer pressentiu que aquele som era o mensageiro de uma sensação ainda melhor do que o toque da sua pele...
E a sua imagem no espelho sorriu.

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