Monday, April 13, 2009

negócios com lobos


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Esta história custa a contar, mas há histórias assim, tristes, que servem de lição e aviso, para que não voltem a repetir-se os aconteceres que elas relatam. Nem pouco mais ou menos.
Quem me confiou a fábula que vão ouvir foi um pastor.
Soubera-a do avô, que também tinha sido pastor, que a ouvira do avô e ele, por sua vez, do avô dele, numa correnteza de netos e avós que mergulhava no princípio dos tempos. Tão antes de tudo a história se passara, que vinha do tempo em que os animais falavam ou, dito de outro modo, em que os homens e os bichos na mesma língua se entendiam.
Nesse tempo, os animais também contavam histórias aos homens. Esta, no princípio, foi contada por uma ovelha ao primeiro de todos os pastores.
E chega de prólogos. Vamos ao que interessa.
As ovelhas e os lobos, que andavam em guerra, resolveram fazer uma trégua na luta. Foram os lobos que a propuseram. Reuniram-se as duas partes em negociações e, ainda por sugestão dos lobos, decidiram trocar reféns. Para que a trégua durasse até culminar numa paz duradoira, os lobos entregavam à guarda das ovelhas os seus lobinhos e exigiam, em troca, os filhos das ovelhas . Explicavam eles: – Não lhes faremos mal nenhum, porque se o fizéssemos e regressássemos à guerra, vocês vingavam-se nos nossos lobinhos. Só assim se poderá garantir, para sempre, a paz entre nós.
As ovelhas concordaram. Custava-lhes a separação dos seus cordeirinhos, mas admitiram que não custaria menos aos lobos o apartarem-se dos filhos. Igual por igual.
Foram os lobos pequenos viver para o meio do rebanho das ovelhas. Eram tratados com toda as atenções.
Identicamente, os cordeiros, no covil dos lobos, recebiam alimento em abundância, com que encorpavam e cresciam.
Quando, gordos que estavam, os cordeiros se transformaram em belos carneiros e formosas ovelhas, os lobos saltaram sobre eles e comeram-nos.
Pela mesma altura, os lobinhos, que já estavam lobos crescidos, fizeram igual razia, no rebanho das ovelhas.
História terrível, como eu tinha avisado. Mas a partir dela nunca mais nenhuma ovelha nem nenhum bicho pacífico quis ter negócios com lobos. Para que se saiba.


António Torrado