Tuesday, October 23, 2007

carta


Fernando Botero, Homem com cão

Parou o carro.
Já antes, por várias vezes, tinha passado na rua dela sem ter coragem de parar. E, afinal, era tão simples!
Desta vez parou.
No meio da rua, mesmo sem desligar o carro, segurou a carta e quase correu para o passeio.
Já trazia no rosto um sorriso. Com um gesto decidido colocou a carta na caixa do correio e voltou-se para regressar ao carro.
Iluminado. Um sorriso ainda mais aberto. No olhar trazia a antecipação da resposta.
E imaginava-a a abrir a caixa do correio, a olhar para o envelope sem remetente, imaginava o espanto no seu rosto, o sorriso da surpresa. E ela a abrir o envelope e a ler a carta e o rubor na face que sabia a assaltaria.
E sabia também, e agora o sorriso feliz que trazia enquanto se encaminhava de novo para o carro, já traduzia essa certeza, que ela não tardaria a responder-lhe.
E, ainda no meio da rua, sentia já o cabelo dela, as cócegas que os caracóis dela lhe iriam fazer na palma da mão. Sentia já o cheiro dela, a maciez da pele dela, o beijo dela, a voz dela, as palavras doces dela, o riso dela, o toque da mão dela…
E, com os olhos a emoldurar um sorriso satisfeito, entrou no carro e arrancou.

2 comments:

Porfirio Silva said...

Olá ! Havias de dizer-me se agora, que o fundo já não é negro, te sentes mais confortável na Machina Speculatrix...
Beijo.

Porfirio Silva said...

Onde andas, "mim", que deixaste a carta e partiste já lá vão tantos dias?