Sunday, January 11, 2009

leitura


Fernando Botero, "A carta", 1976

Enquanto lia, ou enquanto lhe bebia as palavras, as que ele lhe escrevera em folhas de papel branco, a sua pele revestia-se de luz. Luz que era ele. Como se em cada palavra parte dela lhe tocasse. Ela sentia-lhe o cheiro, no cheiro do papel, sentia-lhe a voz a cada letra que juntava, ouvia-o, como se sussurrasse junto a si. E assim, sentia um arrepio, parte dela que gelava, parte dela que fervia…
Ele falava do odor do corpo dela e ela sentia, o odor do corpo dela e o odor do corpo dele…
Ele escrevia sobre o cabelo dela e ela, enquanto o lia, imaginava os seus dedos entrelaçados no cabelo dele…
Ele dizia o sorriso dela e ela ansiava o sorriso dele…
Ele pintava em letras desenhadas o seu rosto, as suas mãos, os seus olhos e o brilho desses olhos, os caracóis do cabelo, as curvas do seu corpo…
E sentia, ela, uma lágrima correr-lhe pela face. E quanto mais lia, mais a lágrima corria. E estremecia, toda ela, na ansiedade do toque da pele dele, sentindo-se já beijada, acariciada… E nunca se tinha sentido tão bonita!
Era urgente responder-lhe!

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